Museu do Automóvel e do Rally de Portugal

Projetar um museu é sempre um grande desafio. Nos dias de hoje os museus representam um dos mais importantes elos de ligação entre o conhecimento e a cultura, a diversão e a aprendizagem permanente. Possuem inumeráveis possibilidades de interpretações metafóricas e conceituais. Neste sentido, o Museu do Automóvel e do Rally de Portugal (MARP) estabelece relações com a arte e com a cultura contemporânea: uma pequena escultura urbana oferecida à cidade.

1. Entre o edifício e a cidade

O projeto procura atender às especificidades do lugar. A observação atenta do sítio induziu à criação de dois eixos de conexão do edifício com a cidade: um de ordem física e outro imaterial.

A PRAÇA

O primeiro eixo consiste em um platô que se eleva suavemente sobre o solo, uma praça suspensa que demarca os limites da construção. É o lugar dos fluxos e dos acontecimentos, das perspectivas e surpresas visuais. Foi a melhor solução encontrada no sentido de acentuar as rotas dos pedestres, criar um lugar significativo, aberto, de apropriação coletiva, no qual os limites entre o público e o privado se esvanecem e tornam-se imperceptíveis. Como a Praça das Comunidades é um local árido, nossa intenção foi criar um contraponto, uma praça verde que pode ser usada pelas crianças das escolas próximas ou pelas famílias residentes nos edifícios vizinhos. Por esse motivo, o grande espaço livre no entorno imediato é percebido com uma virtude, transformando o edifício-museu em ponto focal – uma nova centralidade.

O segundo eixo não é óbvio. Trata-se de um eixo imaterial e conceitual, já que o museu, pelo seu próprio caráter, deve ser o edifício capaz de articular sua vizinhança, especialmente a extensão uniforme da cidade em torno da Praça das Comunidades. Da praça verde uma escada estabelece o eixo de conexão entre o Museu e a Praça das Comunidades, mas, também, conforma um eixo visual simbólico com outro edifício cultural importante, a Biblioteca Municipal de Fafe. Pode ser entendido como uma ponte, como elemento de ligação de memórias, tempos e gerações distintas. A praça verde constitui-se como um espaço capaz de estruturar o programa e surpreender quem dele se aproxima, vindo da rua, e é incapaz de percebê-lo no desenho da cidade. Nessa perspectiva, a praça configura o museu, ao construir uma trama delicada e sutil de relações, capazes de estabelecer vínculos, não apenas com a história, mas, também, com todo o legado e significado do Rally para a cidade.

O MUSEU

Se os museus do passado podiam ser definidos como caixas pesadas e robustas, talvez no intuito de transmitir a solidez dos seus acervos, nossa proposta dialoga com a transparência, almejando certa imaterialidade, ao mesmo tempo que procura integrar e refletir o entorno imediato. As caixas transparentes revelam que os programas culturais, atualmente, podem ser bem mais leves e acessíveis a todas as pessoas.

O desenho arquitetônico procura traduzir o edital do concurso, promovendo espaços adequados à exposição das viaturas, além de contar parte da história do Rally de Portugal. Também houve a preocupação em incentivar outros usos, áreas que estimulem o convívio, como o café na praça verde (cota 408), um auditório para 196 pessoas, uma loja e um restaurante, próximos à entrada do museu (cota 00), além de um parque de estacionamento com 152 vagas no subsolo. Auditório, café, restaurante e parque de estacionamento possuem acessos autônomos, permitindo seus usos em horários variados, independentes do horário de funcionamento do museu.

2. As partes e o todo

O projeto foi concebido segundo algumas ideias da complexidade, procurando a articulação entre as partes e o todo. Sua estrutura formal priorizou o rigor e a essencialidade das formas mais elementares. O projeto é definido por caixas abstratas e contundentes ao nível da praça verde, que geram contrastes e densidades, em um diálogo entre transparência e opacidade, interior e exterior, luz e sombra. As duas caixas abertas abrigam parte das exposições temporárias e um café, respectivamente, e as três caixas fechadas, brancas, evocam memórias, chaminés, torres, minaretes, arquiteturas de tempos distintos. Até mesmo porque, se refletirmos nas propostas da loja Citroën em Paris, de Manuelle Gautrand, passando pelas propostas de Campo Baeza e UN Studio para a Mercedes Benz, pelo Museu do Automóvel de Mansilla + Tuñon, pela BMW de Coop Himmelb(l)au até o recente Museu dos Coches em Lisboa, a história dos carros é a história em constante movimento. Se as caixas transparentes sugerem a presença do museu pela presença visual das viaturas, são as chaminés que garantem focos de luz natural e certa verticalidade necessária numa paisagem por demais horizontal.

As áreas internas de exposição surgiram de um agenciamento espacial bastante dinâmico, quase desordenado, provocando imagens e vivências renovadas através de espaços com possibilidades de percursos diversos, evocando o promenade architecturale e construindo um certo tipo de espacialidade voltada para o seu próprio universo particular. Na caixa de vidro que abriga as exposições foi previsto um grande elevador de uso público, mas que também deverá atender às viaturas do acervo no seu deslocamento vertical quando se fizer necessário.

Ao mesmo tempo, a imagem do edifício deriva de uma alternância quase acidental de cheios e vazios, de uma intencional disposição variada de torres desiguais e de tamanhos diferentes, que se opõem à generalidade, procurando demonstrar, pela soma dos elementos que a compõe, as dinâmicas da vida contemporânea, onde o “todo é maior que a soma das partes”. Nesse caso, a articulação entre o todo e as partes pode ser entendida como uma metáfora das cidades nos dias de hoje.

Nome do projeto
Museu do Automóvel e do Rally de Portugal (Concurso)
Projeto
Alexandre Ribeiro Gonçalves
Manoel Balbino
Wesley Oliveira
Localização
Fafe, Portugal
Ano do projeto
2018
Área
15.800 m²
Cliente
Município de Fafe
Equipe de projeto
Marcos Laffyte
Vivian São José