Projetar uma nova biblioteca pública de abrangência nacional é um imenso desafio. Nos dias de hoje a biblioteca é o elo de ligação entre o conhecimento e a cultura, a diversão e a aprendizagem permanente. Possui inumeráveis possibilidades de interpretações metafóricas e conceituais. Neste sentido, estabelece relações com a arte e a cultura contemporâneas.
Relação entre o edifício e o espaço público
O projeto procura atender às especificidades do lugar. A observação do sítio induziu à criação de dois eixos de conexão do edifício com a cidade: um eixo físico e um outro eixo imaterial.
LIBRARY STREET
O primeiro eixo é o Library Street, o lugar de fluxos e acontecimentos. Foi a melhor solução encontrada no sentido de acentuar as rotas dos pedestres. Liga a Avenida Milady Horákové com o Parque Letenské Sady, enfatizando a diagonal que já existe no local. Também é o eixo natural de conexão entre o parque e a estação de bonde Hradéanská.
Ao se introduzir uma rua coberta que atravessa o interior da biblioteca, a intenção foi reforçar e reafirmar o caráter público do projeto. A Library Street é o lugar de encontros. É onde acontecem as principais atividades públicas do programa, convidando as pessoas a adentrarem o edifício pelo café em frente ao parque ou pela grande praça, o Cultural Lobby no lado oposto do edifício junto à Avenida Milady Horákové. É o lugar de contrastes e contraposições, do ócio e do estudo. Por esta rua coberta é possível apreender todo o edifício. O visitante vai descobrindo o interior da biblioteca, sua complexidade, suas rampas e desníveis, suas inúmeras perspectivas e surpresas visuais.
EIXO KLEMENTINUN
Diz respeito ao importante significado que tem o Arquivo Nacional no contexto de todo o projeto. Foi pensado e resolvido como uma imensa caixa fechada, depositária do saber e da história. Em resposta às solicitações do programa foi desenhado como uma caixa flutuante, contundente, que atravessa toda a biblioteca no sentido longitudinal, formando um eixo visual simbólico com o Klementinun Complex, onde se localiza a biblioteca atualmente. À noite, é uma lanterna urbana, projetando luzes e filtrando imagens.
O Eixo Klementinum, não é óbvio. Trata-se de uma eixo imaterial e conceitual. Através dele, o Arquivo Nacional se abre para a cidade sobre o parque. Pode ser entendido como uma ponte, elemento de ligação de memórias, tempos e gerações distintas. Do novo edifício com o antigo. Do ontem, do hoje e do amanhã.
CONEXÕES
A futura ampliação da biblioteca nacional terá 15.000 metros quadrados de área construída. Como é destinada ao armazenamento de livros e, possivelmente, a outras funções administrativas, não haverá conexão entre os dois edifícios no térreo, já que não há necessidade de acesso ao público.
A conexão da biblioteca com a sua futura ampliação acontecerá por meio de passarelas suspensas a partir do segundo pavimento, na face leste, exatamente no local onde se localizam os escritórios e os acervos. Esta solução é a mesma que foi utilizada no projeto da biblioteca, onde as salas de leitura foram interligadas ao acervo por meio de rampas suspensas. Assim, a futura ampliação, na sua face oeste, deverá ter a mesma altura e o mesmo número de pavimentos que o da biblioteca nacional na face leste, diminuindo a altura próxima ao túnel do anel viário no outro lado.
Conceito Geral
Uma das premissas foi resolver da melhor maneira possível a relação entre a geometria do terreno e a complexidade do programa de necessidades. A solução encontrada priorizou a fragmentação das partes em blocos distintos unidos por rampas suspensas sobre a Library Street.
O projeto é definido por três caixas abstratas e contundentes, que geram contrastes, transparências e densidades, luzes e sombras. Uma caixa aberta, transparente e duas caixas fechadas, uma de concreto e outra de aço cortén, que estabelecem um diálogo de oposições que é próprio da construção do conhecimento. Um convite às novas idéias e discussões que devem nortear o caminho da pesquisa e do saber.
É pelo volume menor de vidro, a caixa aberta, que o edifício recebe luz e ventilação. Forma um imenso átrio cultural com 18 metros de pé-direito – a grande praça – onde se localiza uma das entradas do edifício, áreas para exposições, sala de estar e acesso para os workplaces e para o Main Library Hall.
O bloco maior de concreto, uma das caixas fechadas a que nos referimos, foi colocado na outra face e abriga os storages da Universal Collection. Sua volumetria foi pensada como elemento escultórico definidor da paisagem. Como é um volume fechado, não inviabiliza a construção da futura ampliação a partir de 2040.
A outra caixa fechada, de aço cortén flutua no ar e atravessa a biblioteca, contendo o National Archival Collection, o Parlament Library e o restaurante com seu respectivo terraço.
Programa
A fragmentação do edifício em partes distintas foi decorrência do entendimento e da interpretação do programa. Percebeu-se a existência de três bibliotecas diferentes: a que compreende a Universal Collection, a Parlament Library e a National Archival Collection, acrescidas de uma parte pública e outra administrativa únicas que interligam e unem todo o projeto. Naturalmente o tratamento dado a cada uma destas partes precisou ser distinto.
Tecnologia e materiais
Todos os aspectos construtivos do edifício foram pensados a partir de um conceito de racionalidade e economia. Foi feita a opção pelo emprego de estrutura mista de concreto armando e pilares metálicos circulares.
O revestimento externo da caixa fechada será de aço cortén (chapas de 3000 x 500 mm), fixado na estrutura metálica através de encaixe em peças de suporte. O lado interno será revestido por placas de alumínio fixadas nas peças de suporte da estrutura metálica. Toda essa parede receberá tratamento termo-acústico compatível com as necessidades e especificidades solicitadas.
Grande parte da biblioteca será revestida por vidro. É a tentativa de abrir a biblioteca para a cidade, nas partes onde isso é possível. A intenção foi estabelecer um diálogo entre a materialidade das caixas de concreto e aço e a imaterialidade da caixa de vidro. Um diálogo entre transparência e opacidade, interior e exterior, luz e sombra.
O grande desafio é manter a privacidade necessária nos ambientes de trabalho, leitura, pesquisa e estudo sem perder a transparência do vidro. Neste sentido, hora o vidro a translúcido, hora é opaco, hora é reflexivo, hora possui imagens serigrafadas.