Unidades Habitacionais em Sobradinho

  1. HABITAR COLETIVAMENTE

O projeto da habitação continua sendo um admirável laboratório de experimentação, busca e investigação, no sentido de revelar limites e estabelecer novas possibilidades. Ante a estupidez e o disparate do terrível contexto da dispersão das cidades, certa vontade de habitar coletivamente os espaços ainda persiste, cada vez com mais intensidade, como uma alternativa coerente e contemporânea, capaz de estabelecer um contraponto ante o desperdício de energia, a fragmentação da vida social, o consumo exagerado de matéria, o desrespeito ambiental e o esgotamento ecológico por que passa a vida humana no planeta (Fernández-Galiano, 2011).

  1. RUAS COLETIVAS E PÁTIOS SUSPENSOS

Dada a geometria dos terrenos propostos, que evocam as superquadras, o projeto resultou em um bloco laminar de grande extensão longitudinal. As habitações se organizam ao longo de uma faixa interna de circulação horizontal que pode ser entendida como um prolongamento da rua, ou, ainda, como pontes ou passarelas que conectam os apartamentos. A intenção foi evitar deliberadamente os longos corredores monótonos, tão comuns nesse tipo de solução, e, ao mesmo tempo, permitir maior distância entre as unidades habitacionais, criando espaços dinâmicos, usos coletivos e de convivência entre os vizinhos. Essas ruas coletivas, por sua vez, se abrem ao exterior e recebem iluminação e ventilação naturais através de vazios de pé direito duplo, de pátios suspensos que se organizam de maneira quase aleatória na fachada. As ruas coletivas podem ser percorridas nas suas diversas ambiências e percepções, no que está acima e no que está abaixo, evocando o promenade architecturale e construindo um certo tipo de espacialidade voltada para o seu próprio universo particular. Tanto as ruas coletivas quanto os pátios suspensos são elementos essenciais do edifício, funcionando como lugares de conexão e encontro, como extensão da casa, um verdadeiro quintal suspenso, um espaço para a conversação.

  1. AS PARTES E O TODO

O projeto foi concebido segundo algumas ideias da complexidade, buscando a articulação entre as partes e o todo. Sua estrutura formal priorizou o rigor, a essencialidade das formas mais elementares e uma abstração quase radical que se contrapõe ao espaço interior, organizado com base em um agenciamento espacial bastante dinâmico, quase desordenado. Ao mesmo tempo, a imagem do edifício deriva de uma alternância um tanto acidental de cheios e vazios, de uma intencional disposição variada e quase arbitrária de aberturas desiguais que se opõem à generalidade, resultantes da sobreposição, articulação e empilhamento de apartamentos de tamanhos diferentes, procurando demonstrar, pela soma dos elementos que a compõe, as dinâmicas da vida contemporânea, onde o “todo é maior que a soma das partes”. Nesse caso, complexidade e fragmentação podem ser entendidas como metáforas das cidades hodiernas.

  1. AS HABITAÇÕES

A disposição variada das aberturas só foi possível devido à estratégia híbrida de articulação dos apartamentos de 2 quartos (54,94 m²), 2 quartos PNE (54,94 m²) e 3 quartos (67,91 m²), conforme o que preconiza o edital do concurso, e, também, pelo agenciamento pouco convencional desses apartamentos, gerando pavimentos únicos, dinâmicos e diferentes entre si. O resultado final consiste em 70 unidades habitacionais, sendo 44 de 2 quartos, 22 de 3 quartos e 4 PNE de 2 quartos, organizadas ao longo de seis pavimentos sobre pilotis, além de um nível de subsolo para estacionamento. O ordenamento interior das habitações priorizou os ambientes de permanência prolongada que se abrem para a paisagem e organizou os demais usos voltados para as “ruas coletivas internas”, os quais são iluminados e ventilados pelo vão central (iluminação zenital) e pelos pátios suspensos.

  1. TECNOLOGIA

Os aspectos construtivos foram pensados como um sistema que objetiva a racionalidade, de forma a otimizar dois pontos principais: economia na construção do subsolo / pilotis e na construção das unidades habitacionais. Nesse sentido, optou-se por um sistema misto de estrutura de concreto armado e alvenaria estrutural.  Os pilares de concreto armado nascem no subsolo, obedecendo à modulação das vagas de estacionamento e à circulação de veículos, atravessando o pilotis na forma de pilares cilíndricos, que, por sua vez, recebem, por meio de uma laje de transição, os seis pavimentos de habitações.

A partir desse ponto utilizou-se alvenaria estrutural com uma modulação de 15 cm, sendo que, apesar da intensa variação de agenciamento das habitações em cada pavimento, todos os eixos de paredes são coincidentes. Essa intercessão de sistemas permite velocidade e economia, pois existem apenas 2 tipologias de unidades habitacionais e elementos construtivos que se repetem de forma idêntica em todos os apartamentos, como, por exemplo, portas, janelas, guarda-corpo, paginação de piso e acabamentos. Paredes e estrutura são construídos simultaneamente e o desperdício dos blocos de concreto é mínimo, pois não há quebra in loco. Nessa perspectiva, trata-se de uma metodologia de construção que, multiplicada pelos 5 blocos a serem construídos, permite um aprendizado a cada obra e um consequente aumento de velocidade na construção dos próximos edifícios.

  1. IMPLANTAÇÃO

O desenho da implantação preocupou-se em tecer reflexões, de maneira satisfatória, em torno das 5 áreas (projeções) previstas pelo Edital. No caso do Conjunto B7, onde se localiza o terreno sugerido pelo Edital para ser detalhado, o térreo foi pensado como elemento de articulação entre a cidade e os blocos habitacionais a serem agenciados (projeções A e C). O desenho do piso, em pedra portuguesa branca e preta, criou uma faixa contínua que percorre longitudinalmente toda a área, com o propósito de conectar diferentes espacialidades. Nesse caso, uma rampa conforma um espaço de estar em frente o Bloco A, que avança e percorre toda a projeção do pilotis, criando uma praça de convivência na área pública entre os dois blocos e continua avançando, até atravessar o Bloco C e chegar à divisa com a Escola Classe 1C, gerando uma nova praça de estar e convivência.

O edifício (Projeção A) foi implantado na cota intermediária +1083, ajustando-se à topografia por meio de rampas, escadas e taludes. O desenho procurou explorar o que permite a legislação vigente, sobretudo a Lei Complementar 755/2008. O subsolo avança sobre a área pública e, nesse sentido, houve uma atenta observação do lugar a fim de que sua implantação exercesse o menor impacto ambiental, a menor movimentação de terra e a preservação do maior número de árvores possível. De acordo com a mesma lei, o térreo foi implantado na projeção oferecida (15 x 60m) e os demais pavimentos de habitação avançaram sobre a área pública em 1,5m de cada lado, no sentido longitudinal Nordeste/Sudoeste, o que permitiu a criação das ruas coletivas e uma considerável melhoria da espacialidade interna.

Nome do projeto
Unidades Habitacionais em Sobradinho (Concurso)
Projeto
Alexandre Ribeiro Gonçalves
Eurípedes Neto
Localização
Sobradinho-DF
Ano do projeto
2016
Equipe de projeto
Wesley Oliveira