Sede da FAPERGS (Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul)

(Concurso – Menção Honrosa)

 

O projeto é definido por dois volumes de formas simples e puras, ângulos retos e precisos, rigor e contundência. Duas caixas que estabelecem contrastes, transparências e densidades, luzes e sombra. Uma caixa aberta e outra fechada, um diálogo de oposições que é próprio da construção do saber científico, um convite às novas ideias e às discussões que devem nortear o caminho da pesquisa.

A solução volumétrica adotada tira partido da geometria do lote, de sua grande extensão, do entorno e da complexidade do programa de necessidades. É pelo volume menor de vidro, a caixa aberta, que todo o edifício recebe luz e ventilação, já que está recuado três metros da divisa. O bloco maior, de aço cortén, foi colocado na outra divisa. É a caixa fechada a que nos referimos. Sua volumetria foi pensada como elemento escultórico definidor da paisagem, destacando-se do entorno junto à Avenida Ipiranga e colocando-se como elemento artificial, produto humano, junto à praça da Rua Guerreiro Lima. Uma estética que tenta perseguir “certo ar tecnológico” na sua superfície e estabelecer relações com a arte e com a cultura contemporânea na sua essência.

Diretrizes projetuais

O projeto procurou resolver da melhor maneira possível a relação entre geometria do lote, legislação e complexidade do programa de necessidades. O pavimento térreo compreende a recepção, espaço de exposições e auditório, além dos sanitários e circulação vertical. Toda a transição entre espaço interior e exterior é realizada na recepção e espaço de exposições. Uma caixa de vidro de onde é possível vislumbrar todos os outros pavimentos e a interação e a riqueza espacial do conjunto. É o grande espaço de ligação entre a rua e o edifício, entre o público e o privado.

Com a opção de se localizar o auditório no térreo foi criada uma caixa de concreto armado (aparente nas faces que assim o permitem), aproveitando-se a largura total do terreno, otimizando a relação largura/profundidade. O auditório (306 pessoas) poderá ser dividido em duas partes iguais, conforme diretrizes do programa de necessidades. Foi previsto uma subdivisão através de paredes divisórias móveis tipo Wall System/Hufcor, com isolamento acústico de 42 db. Este mesmo sistema também será usado no 2º pavimento, nas 8 salas de assessoria externa, que poderão ser reagrupadas conforme a necessidade de salas com tamanhos diferenciados.

O primeiro pavimento abriga o arquivo morto. No segundo pavimento, encontram-se os gabinetes da Assessoria Externa e parte da Secretaria. O terceiro pavimento abriga a Direção, Assessoria Geral, parte da Secretaria e sala de reuniões do Conselho Superior. No subsolo, estão o refeitório, as atividades dos Serviços Gerais, segurança, acesso secundário de funcionários e estacionamento coberto para 23 veículos.

Os espaços que atendem aos escritórios do uso executivo foram concebidos dentro de algumas premissas bem definidas: rigor na concepção espacial e no acabamento, além do tratamento do espaço dado por planos que alteram transparência e opacidade.  Graças ao uso de transparências e semi transparências é possível vislumbrar cada uma das áreas, mantendo ao mesmo tempo certa privacidade (fluidez do olhar sem o devassamento de espaços absolutamente abertos). Esta mesma fluidez é perseguida através dos rasgos feitos nas lajes dos diversos níveis, permitindo observar o ambiente de trabalho dos outros pavimentos, integrando os espaços e unindo as duas caixas que compõem o volume do edifício.

Relação entre o projeto e o espaço público

A preocupação com a sua implantação e o arranjo dos volumes teve por objetivo a inserção de elementos que sejam realmente significativos e em condições de estabelecer contrapontos com o entorno.

O acesso do público se dá pela Avenida Ipiranga. O térreo foi elevado à cota +1,05 m a fim de possibilitar o acesso dos veículos ao subsolo. O acesso de funcionários e estacionamento acontece pela Rua Guerreiro Lima, mais tranquila e propícia a tais finalidades. A entrada dos funcionários é feita pelo subsolo, na cota –1,84m. No subsolo, além da entrada dos funcionários e do estacionamento para 23 veículos, estão o refeitório, vestiário, segurança, copa/cozinha e serviços gerais.

O volume de vidro (caixa aberta) está afastado da lateral 3m. Como o terreno é muito longo, tal medida facilita a iluminação natural de todos os ambientes. A preocupação nesse caso, não é com a paisagem externa e sim com a iluminação e melhor ambiência do espaço interno. A caixa de vidro não deixa de se constituir num elemento de transição entre o espaço interno e o externo, tão necessária a quem vai usufruir dos escritórios diariamente.  Para os ambientes voltados para a Rua Guerreiro Lima, a caixa de vidro proporciona uma interação com a praça e com o ambiente externo.

Tecnologia e materiais

Todos os aspectos construtivos deste edifício foram pensados a partir de um conceito de racionalidade e economia. A estrutura metálica foi modulada a partir de múltiplos de 2,5 metros no sentido do comprimento. Configura-se como uma estrutura simples de aço perfil “I”, de fácil e rápida montagem. O sistema de estabilização, travamentos e contraventamento acontece principalmente nas empenas cegas do edifício. Será utilizado o sistema de lajes pré-fabricadas de concreto protendido, eliminando o uso de escoras.

O uso de estrutura convencional de concreto armado será utilizada apenas na caixa de escada e elevador. Nas paredes transversais do auditório será utilizado concreto aparente em contraponto ao aço cortén e ao vidro.

No volume maior, a caixa fechada, o lado externo será revestido de placas de aço cortén (3000×500 mm), fixadas na estrutura metálica através de encaixe em peças de suporte. O lado interno será revestido de placas de 18 mm de MDF (acabamento laminado) fixadas nas peças de suporte da estrutura metálica. Toda essa parede será “recheada” por jato de poliuretano que tem por finalidade dar tratamento termoacústico ao sistema. O colchão de ar formado no interior funciona com um isolamento térmico adicional, além de ser o local ideal para a passagem dos dutos do ar condicionado e demais instalações.

No volume menor, a caixa aberta, a estrutura metálica ficará aparente, recebendo tratamento final de pintura branca. Toda a vedação será de vidro e caixilharia de alumínio anodizado branco. A 30 cm do vidro será instalado um brise de alumínio natural. O coroamento da caixa menor é feito por uma platibanda de viga metálica perfil “I” de 1m. O tratamento paisagístico primou pela neutralidade, procurando integrar espaços internos e externos. O piso de granito da recepção e foyer chega à área externa, indo até a calçada. A única diferença é apenas no tratamento do material (granito polido na parte interna e rústico, na parte externa.)

Nome do projeto
Sede da FAPERGS (Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul) (Concurso)
Projeto
Alexandre Ribeiro Gonçalves
Cristiano Lemes Carvalho
Localização
Porto Alegre, RS
Ano do projeto
2004
Área
2.400,00 m²
Cliente
Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul
Equipe de projeto
Eliseu Luís
André Torres